Hoje.....
.....quero apenas falar de mim.
Quando me embrenho numa subida difícil rumo a um cume que, por alguma razão às vezes inexplicável, me faz desejar alcançá-lo sinto-me forte, imparável. Montes pequenos, que se atinjam com um passo, desinteressam-me e passam-me ao lado.
Habituada a seguir sozinha na frente, a definir rotas e a escolher percursos, não me pesam os que me seguem ou até aqueles que transporto agarrados a mim.
São muito poucas as mãos em que confio quando se estendem para me ajudar a subir e se alguém me lança uma corda onde me agarrar analizo-a cuidadosamente à procura do sítio onde, eventualmente, lhe possam ter infligido um golpe que a faria quebrar-se com o meu peso e dificilmente a uso. Suspeito de ventos favoráveis ou de calços que surgem em locais demasiado perfeitos... Prefiro seguir pelos meus meios, pois ainda que isso torne a subida mais dura também tornará a vitória mais pura.
Desoriento-me quando me surgem pequenas dificuldades vindas de várias frentes, como melgas que me picam ou formigas que me sobem pelas pernas e que facilmente esmagaria com um dedo...mas que me fazem esbracejar sem direcção. Disperso a minha atenção e tenho dificuldade em focar-me.
Nessas alturas paro, sento-me, olho em volta, identifico o que me incomoda, defino prioridades, delineio estratégias e só depois me levanto para seguir em frente.
Mas os grandes obstáculos não me demovem, pelo contrário, impulsionam-me, fazem-me emergir forças que desconheço e que às vezes até me surpreendem. Contornar esses obstáculos é sempre a minha segunda opção. Tento sempre ultrapassá-los de frente, de cabeça erguida...mesmo que me rasguem as mãos e me esfolem os joelhos. Não temo a dor e não paro para lamber feridas. Sigo orgulhosa das cicatrizes que fazem de mim o que sou.
Quando finalmente atinjo o pico, o cume que me deslumbra...imediatamente olho em redor à procura de outro ainda mais alto para trepar. Às vezes preciso de ver esse outro objetivo a atingir mesmo antes de conquistar o primeiro, porque se não houver nada mais além que me deslumbre, eu sei que ao chegar ao topo as minhas forças se desvanecem e me lanço para o vazio em queda livre onde repouso à espera de outro cume que me desperte.
Não sei subir devagarinho nem ficar calmamente a apreciar a conquista.
É sempre ou tudo ou nada, ou no topo ou fundo....
Às vezes orgulho-me de ser assim,
outras nem tanto,
mas procuro entender-me, aceitar-me...
...e viver em paz comigo.
That's me, do you get me?